Os anos passam e nosso conhecimento evolui, mas algumas
crendices e regras alimentares permanecem fortemente arraigadas em nosso
dia-a-dia.
Em uma época de pleno acesso às informações, tanto online
quanto offline, certas tradições ou recomendações alimentares
sem fundamento ainda se mantêm vivas. Como aquela famosa mistura
“proibida” da manga com o leite, ou a ideia de que parar de
comer chocolate faz sumir as espinhas. Hoje, no entanto, as preocupações
mudaram: o foco está na busca por saúde, controle de peso e aceleração
do metabolismo. Mas nem tudo é tão verdadeiro como se pensa. Confira
algumas lendas e “mandamentos” dos quais você já deve ter ouvido falar e
saiba por que eles não podem ser levados ao pé da letra.
Pequenas refeições ao longo do dia ajudam a emagrecer
Uma pesquisa realizada pela Universidade de Ottawa, no Canadá, e
publicada no The British Journal of Nutrition mostrou que não é bem
assim. Os cientistas submeteram um grupo de homens e mulheres com
sobrepeso à mesma dieta restritiva por oito semanas. Parte deles
consumiu as três refeições habituais enquanto os outros ficaram com as
seis. Ao final, verificou-se que a perda de peso foi a mesma para ambos
os grupos. Apesar de a pesquisa mostrar que é mito fracionar as
refeições para emagrecer, a nutricionista Renata Padovani,
da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), afirma que comer de três
em três horas ajuda a controlar a fome. “O ideal é ter um plano
alimentar com a quantidade de calorias que devem ser consumidas ao longo
do dia e fracionar esse total. O segundo passo é escolher o que comer.
O controle calórico é imprescindível”, orienta.
Adulto não deve beber leite
Esta é uma afirmação controversa, já que – ao contrário dos animais,
que são amamentados quando pequenos – o homem continua ingerindo leite
depois de crescer. Para a nutricionista Adriane Elisabete Moraes,
professora da Unicamp, isso acontece porque o ser humano foi capaz de
domesticar o gado e desenvolver tecnologias para conservar a
bebida. Outro motivo é suprir a deficiência de cálcio na dieta, embora o
nutriente também possa ser encontrado em alguns vegetais. Autora de um
estudo que originou o livro Leite Para Adultos – Mitos e Fatos Frente à Ciência
(Ed. Varela), Adriane reconhece que existem pessoas que não
devem consumir leite, como nos casos de intolerância à lactose. O jeito é
cortá-la da dieta ou substituir o leite por outra bebida, sem esquecer,
é claro, de encontrar também uma fonte substituta de cálcio.
Fritar com azeite é mais saudável
O erro já começa com a existência da “fritura” e do “saudável” na
mesma frase. Mas o mais importante, é o controle da temperatura em que o
alimento é frito. Cada tipo de gordura possui um nível de tolerância às
altas temperaturas e, quando ela é extrapolada, tem-se o chamado ponto
de fumaça, que origina substâncias danosas ao fígado.
Isso significa que quem busca uma fritura menos prejudicial precisa
escolher um óleo com ponto de fumaça mais alto e controlar a temperatura
o tempo todo. Nesse caso, o óleo de canola refinado é um dos que
demoram mais a chegar no ponto alto: 240°C, seguido dos de soja ou
girassol refinados (232°C) e do azeite virgem (216°C). Fritar com
azeite extravirgem pode ser mais prejudicial ainda, porque seu ponto de
fumaça é atingido aos 191°C. A dica é evitar chegar a esse estágio - e,
para isso, o fogo médio pode ser um aliado.
Alimentos diet ajudam a manter o peso
Quem quer emagrecer, mas não resiste a um doce, geralmente acaba
usando os alimentos dietéticos como válvula de escape. Mas esta atitude,
segundo a nutricionista Alessandra Coelho, de São Paulo, não é
benéfica: a ausência do açúcar, muitas vezes, leva a indústria a
acrescentar gordura saturada ou trans ao produto para manter as suas
características, como textura e sabor. “Os alimentos diet também contêm
um alto teor de adoçantes artificiais, cujos malefícios ao organismo
ainda não foram definidos,” afirma. Para sanar essa dúvida,
pesquisadores da Purdue University, nos EUA, realizaram um estudo com
ratos, alimentando-os com iogurte adoçado com sacarina. O
resultado mostrou que os animais que ingeriram adoçantes ganharam mais
peso do que os que receberam iogurte normal. A explicação dos cientistas
é de que o adoçante “bagunça” o cérebro. Ao sentir o doce, as papilas
gustativas passam a mensagem de que vem por aí uma boa dose de açúcar. O
corpo, por sua vez, prepara o metabolismo para essa energia; porém,
como ela não vem, a pessoa sente vontade de comer mais.
Comer à noite engorda
No final do ano passado, uma pesquisa feita pela Universidade
Hebraica de Jerusalém mostrou que evitar carboidratos à noite pode não
ser tão emagrecedor como se pensa. Os pesquisadores acompanharam,
por seis meses, um grupo de 63 policiais que foram submetidos a uma
rotina alimentar específica: uma parte ingeria os carboidratos somente à
noite e o outro distribuía a substância ao longo das refeições
habituais do dia. O resultado mostrou que houve mudança hormonal entre
os que ingeriram carboidrato à noite, e eles se sentiam mais saciados
durante o dia do que o outro grupo. Assim, chegou-se à conclusão de
que banir o carboidrato à noite não faz a menor diferença para quem quer
controlar o peso.
De geração em geração
Houve um tempo em que beber água depois de comer melancia dava febre. E colocar
carne e peixe no mesmo prato, nem pensar! Encurtava a vida. Frutas não seriam
nutritivas, e o bom mesmo era tomar cuidado com os frutos gêmeos, porque
comê-los é pedir para ter gestação dupla. A manga, por exemplo, era a
causa de pruridos, coceiras e dermatoses. Então, tornou-se “proibido”
comê-la com leite. Laticínios, por sua vez, não deveriam ser servidos
com peixe, pois eram tidos na Europa como alimentos completos – assim,
temia-se misturá-los com quaisquer outros. Os séculos passaram, mas
muitas dessas crendices sobrevivem fortemente ao tempo. E você
acredita????
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